Suspeitas quanto à adopção de crianças guineenses Governo de Madrid investiga casos em que teriam sido cometidas algumas ilegalidades
Uma série de tentativas de adopção irregular na Espanha de crianças da Guiné-Bissau, um dos países
mais pobres do mundo, levou o Governo de Madrid a congelar as relações desse tipo com aquela antiga colónia portuguesa na África Ocidental, noticiou ontem o jornal El País.
As possíveis irregularidades foram comunicadas pelo consulado da Espanha no Senegal, país para o qual, aliás, já se sabia, desde Novembro do ano passado, que estavam a ser traficadas crianças guineenses, conforme na altura alertou a Associação SOS Talibé, dirigida por Malam Baio.
Desta vez, crianças que chegavam à Espanha sob o pretexto de receberem tratamento médico poderiam
servir para adopções irregulares, como já tem acontecido na França e em outros países europeus, em
relação a petizes de diversas regiões africanas.
"Mais de 50% das crianças da Guiné-Bissau são inexistentes para o Estado, por não terem sido registadas, situação que a UNICEF quer alterar com uma acção de registo em larga escala a partir do Leste do país", destacou, há tempos, o jornalista Mussá Baldé, da agência Lusa. E é a partir dessa realidade que algumas redes têm actuado, fazendo transitar os pequenos para os países vizinhos ou para a Europa, numa situação algo comparável à que, no ano passado, se verificou no Chade com os franceses da organização Arca de Zoé, que acabaram por ser detidos e julgados.
Um dos casos que recentemente chamaram a atenção do cônsul espanhol em Dacar, Ricardo Añino, foi o de duas crianças guineenses para as quais a fundação privada NEPP pediu visto para que fossem tratadas no Hospital Geral da Catalunha, numa altura em que haviam principiado em Barcelona iniciativas com vista à
adopção.
O visto foi pedido por Jordi Domigo Ribas, fundador da NEPP e chefe do serviço de Psiquiatria do Hospital Geral da Catalunha, que costuma ir à Guiné-Bissau em viagens de cooperação. Mas este médico negou ao El
País ter cometido qualquer irregularidade, havendo argumentado que só tratara da ida das crianças para a Península Ibérica a pedido de uma sua compatriota, natural da cidade de Tarragona, a qual se condoera delas.
PUBLICO 02.03.2008